A clínica que realizou o sonho de ser mãe de mais de quinhentas mulheres inferteis nos últimos seis anos está encerrando suas atividades. A sala de espera, antes frequentada por pessoas carentes e ansiosas para terem filhos, hoje, está vazia. Desde janeiro deste ano, o Serviço de Reprodução Assistida Prof. José Weydson de Barros Leal, do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (Imip), deixou de receber novos pacientes, por falta de recursos. As portas ainda estão abertas somente porque os tratamentos já iniciados não foram interrompidos. O serviço é o único gratuito do Nordeste.
A clínica fez parte de um projeto do Governo Federal em que cada região do País teria um serviço de reprodução assistida voltado para as famílias carentes. Em 2009, foi inaugurada pelo então ministro da Saúde, José Gomes Temporão. “Nós a concebemos e a produzimos, mas ela nunca foi incorporada na tabela do SUS. Por isso, precisamos arcar com os gastos, muito altos para manter durante a crise”, contou o presidente do Imip Gilliatt Falbo.
“Muitas vezes os médicos fizeram campanhas de doação”, lembrou o médico. “É importante lembrar o lado humano da perda. Pois, para muitas mulheres carentes de todo o Nordeste, essa era a única oportunidade de ter um filho. Não é preciso dizer o quanto isso é importante para elas”. A espera durava anos, tamanha a procura. Às vezes, a alegria chegava até em maior quantidade que o esperado pelas mães. Com frequência, as fertilizações acarretam em gestações de gêmeos. No ano passado, um casal ficou famoso após a mulher ter passado pelo processo in vitro na clínica e dado à luz a quíntuplos.
De acordo com a superintendente geral, Tereza Campos, o custo mensal do serviço era de quase R$ 147 mil. O Governo do Estado garantiu cerca de 20% do valor durante o período de funcionamento. O restante, R$ 118,2 mil, foi providenciado mês a mês pela própria instituição. O alto custo garantia dois processos: tanto a reprodução assistida, em que o sêmen é coletado, tratado e injetado no útero, quanto à fertilização in vitro, para casos em que o sêmen tem baixa fertilidade ou as trompas estão obstruídas.
“No primeiro, é mais simples. Criamos uma concentração muito alta de sêmen, algo como mais de 5 milhões por mililitro, e injetamos. Quando in vitro, colocamos apenas um, no óvulo retirado da mulher, dentro do laboratório. É mais trabalhoso”, explicou a médica, Gabriela Collier, especialista no assunto.