Cemit contraria IML e diz que surfista foi atacado por tubarão em Olinda

O Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) concluiu que o surfista Diego Gomes Mota, 23 anos, foi atacado por tubarão no dia último dia 31, na Praia Del Chifre, emOlinda. Em coletiva na sede da Secretaria de Defesa Social (SDS), nesta quarta-feira (8), o Cemit apontou que a análise da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) indicando a compatibilidade das ranhuras na prancha com a mordida do animal marinho foi um dos fatores decisivos. O incidente vai entrar na lista oficial de ataques de tubarão, como o 60° caso ocorrido em Pernambuco, desde 1992.

De acordo com o presidente do Cemit, coronel Clóves Ramalho, vários dados foram confrontados e consolidados para este resultado. “Nós nos baseamos em fotos e filmes do ferimento, no depoimento coerente do surfista e das testemunhas, na análise técnica das ranhuras na prancha pela UFRPE, além do momento do acidente, com maré cheia e água turva, e do local — essa praia já registrou outros três ataques anteriomente. A gente não pode afirmar 100%, mas todos esses indícios levam a crer no ataque”, informou.

Jonas Rodrigues (E), pesquisador da UFRPE, explicou como o estudo foi feito (Foto: Luna Markman / G1)
Jonas Rodrigues (E), pesquisador da UFRPE,
explicou como o estudo foi feito

O pesquisador do Departamento de Pesca da UFRPE, Jonas Rodrigues, explicou a metodologia do estudo. “A gente comparou as ranhuras encontradas na prancha com outros ataques e objetos mordidos, e essa análise da prancha confirma que a mordida foi efetuada por tubarão, provavelmente de pequeno porte, da espécie Tigre ou Cabeça-Chata”, disse. O depoimento do surfista afirmando que viu um cardume de peixe passando antes do ataque corroborou com a conclusão, pois indica a presença de predador no local.

O pesquisador também desconsiderou a possibilidade de um ataque de jacaré. Os moradores de Del Chifre relataram ao G1 terem visto jacarés até mesmo na faixa de areia nos últimos meses. “Os jacarés habitam águas doces e as espécies brasileiras não têm glândulas adpatadas para águas salgadas. Além disso, a estratégia de predação do jacaré é diferente da do tubarão, assim como o formato da mordida do jacaré, e não são compatíveis com as ranhuras na prancha”, disse.

Divergências
No dia seguinte ao ataque, o diretor do Instituto Médico Legal (IML) de Pernambuco, Antônio Barreto, e o médico Petrus Andrade Lima, que atendeu o surfista, disseram em entrevista que o ataque não teria sido de tubarão. Para eles, outro animal marinho ou algum instrumento cortante havia causado o ferimento. O Cemit levou em consideração que a perícia feita pelo IML foi prejudicada por ter observado o ferimento já tratado.

O perito do IML Elias José de Melo foi quem fez a perícia que apontou não haver compatibilidade com mordida de tubarão. “O que eu vi no hospital foi um ferimento modificado, operado, e isso levou a crer que não foi um tubarão, estava totalmente diferente. Vendo as fotos da ferida sem tratamento, parece [mordida de tubarão]”, disse.

Coronel Clóvis Ramalho, presidente do Cemit, disse que serão lançados editais de pesquisa em busca de iniciativas com viabilidade técnica e ambiental para proteção da orla (Foto: Luna Markman / G1)

Proteção no litoral
O presidente do Cemit, coronel Clóves Ramalho, afirmou que a instalação de uma tela de proteção no litoral pernambuco não está mais nos planos da SDS. Ele disse que a avaliação feita pela gestão anterior do comitê apontou que o alto custo da implantação e manutenção, além do impacto ambiental, colaboraram para a desistência do projeto. “As redes seriam melhores para melhor para baías, com única entrada de tubarão, mas nosso litoral é retilíneo, com proibição de esportes náuticos em um trecho de 32 quilômetros. Não há lógica em investir em rede”, assegurou.

O coronel informou que deve ser assinado, ainda neste primeiro semestre de 2015, um acordo de cooperação técnica com a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), órgão ligado ao governo estadual, para lançar editais de pesquisa que apontem iniciativas com viabilidade técnica e ambiental. “Enquanto isso, o Corpo de Bombeiros vai continuar atuando nas praias. Há 20 meses não tínhamos um incidente, e existem as placas de alerta. As atividades do Sinuelo pararam no final do ano passado, mas já vamos repassar R$ 440 mil para a UFRPE continuar esse trabalho de monitoramento de tubarões”, informou.

Diego Gomes Mota, 23 anos, deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olinda com um ferimento na coxa esquerda, na manhã do dia 31 de março, sendo transferido depois para o Hospital Miguel Arraes. Ele estava surfando com o irmão e outros dois amigos na Praia Del Chifre, por volta das 11h, quando foi ferido na água.

Laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) divulgado no dia seguinte ao ataque descartou a possibilidade do ferimento ter sido provocado por uma mordida de tubarão. Segundo o diretor do IML, Antônio Barreto, o ferimento foi provocado por um animal marinho, mas a mordida não seria compatível com tubarão. O surfista, no entanto, sempre sustentou que viu o tubarão e chegou a lutar com ele para se desvencilhar da mordida.

Diego Mota teve alta no dia 3 de abril. De acordo com o boletim médico divulgado pela unidade de saúde, ele deve retornar ao hospital para consulta ambulatorial, dos setores de ortopedia e cirurgia plástica, onde será avaliado.

A área onde o surfista foi mordido é um dos pontos onde a prática de atividades náuticas é proibida por causa do risco de ataques de tubarão. Ao todo, o litoral de Pernambuco tem 32 quilômetros de áreas restritas, indo do Fortim do Queijo, em Olinda, até a praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho. Essas praias também contam com cem placas sinalizando o perigo e 60 guarda-vidas para retirar os banhistas que resistirem a sair voluntariamente.