Um dia após afirmar que Brasil e Mercosul têm condições de apresentar propostas comerciais à União Europeia nos próximos “dias ou meses”, a presidente Dilma Rousseff ressaltou nesta quinta-feira (11), em Bruxelas, que não perdeu a “paciência” com a Argentina, integrante do bloco sul-americano que tem imposto restrições ao acordo.
As negociações em torno do acordo de livre comércio entre os dois blocos têm sido travadas pela resistência do governo argentino.
“Essa visão de o governo perder a paciência com a Argentina, primeiro, não representa jamais o que o governo brasileiro pensa. A Argentina é um grande parceiro nosso, temos de ter toda consideração com a Argentina e não existe motivo para a Argentina não ir conosco. Ela tem essa disposição e jamais se trata de uma coisa tão desrespeitosa quanto perder paciência entre governos”, disse a presidente, durante uma entrevista na capital belga, onde participa da II Cúpula União Europeia – Celac.
A presidente disse que “não significa que não terá data” para o acordo de livre comércio e falou da necessidade de todos os países da União Europeia aprovarem a negociação.
“Não saí frustrada. Isso não significa que não terá data. Nós fazemos proposta, vamos fazer troca de oferta, aí eles tem de olhar condições deles e fazer a mesma proposta. Eu acredito que é muito importante o Mercosul sinalizar que vai unido e acho que eles também vão ter que sinalizar”, disse.
A presidente afirmou que, apesar de a Comissão Europeia ter o poder de firmar o acordo, ele dever ser de 27 países. “Não é trivial. Nenhum país é igual ao outro”, disse.
Dilma ainda rebateu as críticas de que o acordo está em negociação há muito tempo e disse que acordos bilaterais podem ser difíceis para qualquer país ou região.
“Essa é visivelmente uma conversa que eu diria que é de quem acha que a culpa é sempre dos latino-americanos. Não é trivial entre nenhum país fazer acordo comercial”, afirmou. “Por que até hoje não saiu acordo entre União Europeia e Estados Unidos? Por que não saiu acordo entre União Europeia e Japão?”, completou.
Por último, a presidente defendeu as negociações sobre a Rodada de Doha, que visa liberalizar o comércio mundial.
“Acho que nenhum desses acordos que estamos fazendo pode justificar que a gente não tente novamente a Rodada de Doha. Porque, na verdade, Doha é que criaria um outro ambiente para o comércio internacional”, disse.
Nesta quarta, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevedo, lamentou a falta de decisão política para concluir as negociações sobre a Rodada de Doha, visando liberalizar o comércio mundial.