Os médicos residentes do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), localizado na Zona Oeste do Recife, entram em greve por tempo indeterminado a partir desta sexta-feira (10). Eles reclamam que não desfrutam de condições básicas de trabalho adequadas, por causa da falta de itens essenciais como luvas e medicamentos. Por isso, suspenderam o atendimento ambulatorial e as cirurgias eletivas – agora, esses serviços serão mantidos apenas pelos médicos contratados e concursados. Já os serviços de plantão serão mantidos por todos os profissionais.
Para marcar o início da greve, os residentes realizam um ato público em frente ao HC na manhã desta sexta. Eles fizeram cartazes pedindo socorro para o hospital e pretendem marchar até a reitoria da UFPE, mas de forma rápida para não atrapalhar o trânsito na BR-101. Os residentes ainda conversam com os pacientes para explicar o motivo da greve.
Pedro da Costa Neto, membro da comissão que negocia com a administração do hospital, explica que o movimento busca garantir um bom atendimento à população. “Nossas reivindicações não têm nada a ver com a condição salarial, apesar de recebermos R$ 11 reais/hora. O que colocamos na pauta são as condições de trabalho precárias, que têm comprometido o atendimento. É uma questão de responsabilidade civil, porque estamos sem condições mínimas de atendar os pacientes. Faltam elementos básicos como itens de farmácia, luva, seringa, agulha, medicamento. Além disso, há máquinas de exames quebrados. Então, o atendimento fica comprometido e a gente, limitado”, argumenta.
Ainda segundo Pedro, cerca de 300 residentes atuam no Hospital das Clínicas atualmente e a adesão à greve é alta. Apenas especialidades pontuais, como a otorrinolaringologia, não participam do movimento, de acordo com ele. Já os residentes médicos e multiprofissionais, de farmácia, psicologia, nutrição, terapia ocupacional, enfermagem e fisioterapia, aderiram à paralisação. Eles só não suspenderam a escala de plantões nos setores de quimioterapia, radioterapia e hemodiálise e no Centro Obstétrico, considerados essenciais.
O porta-voz do movimento também explica que os residentes atuam sob supervisão de profissionais contratados ou concursados, por isso o atendimento não será totalmente paralisado, mas corre o risco de ficar lento. “Exercemos as funções de um profissional da área, mas sob supervisão, já que somos profissionais em formação de especialização. Então, não podemos afirmar que hospital vai parar. Mas o efetivo de residentes é proporcional ao de médicos contratados e concursados e não sabemos como esses profissionais vão manter o atendimento. Então, devido ao volume e à força de trabalho que exercemos, a greve afeta o fluxo de atendimento como um todo”, acredita.
Procurado, o Hospital das Clínicas reforçou que os residentes são acompanhados por médicos profissionais. Por isso, não se pode dizer que os atendimentos serão suspensos. O HC, no entanto, confirmou que há risco de o atendimento ser reduzido ou ficar mais lento. Um balanço inicial deste primeiro dia de paralisação deve ser feito à tarde. O hospital, por meio da assessoria de comunicação, ainda lembrou que será difícil apontar com exatidão quanto o movimento vai afetar o funcionamento do hospital porque os servidores técnicos da unidade médica também estão em greve, desde o dia 28 de maio.
Negociação
Pedro da Costa Neto afirma que a greve foi decidida em assembleia no último dia 6, após a paralisação da negociação com a administração do Hospital das Clínicas, que há dois anos é de responsabilidade da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). Segundo o residente, a pauta de reivindicações foi entregue à direção do HC em março. Na ocasião, foram estabelecidas metas de recuperação de curto, médio e longo prazos e o diretor do hospital se comprometeu a realizar reuniões quinzenais com os residentes.
Em abril, no entanto, os residentes constataram que as metas de curto prazo não haviam sido cumpridas e realizaram um protesto. Desde então, as reuniões foram rompidas. No último dia 6, venceu o prazo das metas de médio prazo, que também não foram cumpridas, segundo Pedro. Neste dia, a classe realizou uma assembleia e decidiu pela greve. O hospital chegou a marcar uma reunião para o dia 11, mas o encontro teria sido cancelado.
Agora, os residentes pedem a retomada das negociações e um documento com metas e prazos para a solução das denúncias apontadas pela classe. O andamento das negociações será discutido pelos grevistas em assembleias quinzenais. Pedro espera que o hospital apresente alguma posição antes da primeira assembleia, marcada para a próxima quarta-feira (15).