Prédio da Sudene é um gigante esquecido

Prédio da Sudene é um gigante esquecido

Um gigante que agoniza. O edifício-sede da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) foi inaugurado como símbolo do sonho de desenvolvimento e integração da região. Quatro décadas depois, virou monumento ao abandono. Nos últimos dias, o prédio foi centro de polêmica após a Justiça Federal determinar sua interdição devido a problemas estruturais. A suspensão durou dois dias. O Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) decidiu pelo restabelecimento das atividades no edifício, mas a Justiça do Trabalho, um dos 10 órgãos que funcionam no local, resolveu retomar apenas parcialmente os trabalhos.

Esvaziada após escândalos, a Sudene foi extinta em 2001 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e recriada em 2003 por seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Além do órgão regional, o edifício abriga o Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Ministérios da Saúde, do Planejamento e da Integração Nacional, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Comissão de Turismo Integrado do Nordeste (CTI-NE) e Procuradoria do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Mesmo assim, o colosso de 269 metros de extensão, revestido com cerâmica artesanal confeccionada por Francisco Brennand e adornado com um jardim idealizado pelo paisagista Roberto Burle Marx, mais parece um edifício fantasma. Uma das entradas da Sudene está inutilizada, cercada por tapume e entulhos. Do lado de dentro, um salão escuro. Em outra recepção, birôs vazios no setor de protocolo. O hall tem algumas poças d’água, resultado das goteiras e do teto com infiltração. Três elevadores centrais estão quebrados.

Subir os degraus dos 13 andares do prédio é visitar um presente com cara de passado. Esquecido. Prova inequívoca do abandono são as dezenas de salas fechadas com cadeados, sem função definida e que só elevam os custos de manutenção. Uma porta não tinha maçaneta. Algumas estavam soltas e escoradas. Outras, totalmente corroídas. Lâmpadas queimadas são muitas. Poucas funcionam. Banheiros com pias, mictórios e cabines interditadas são uma constante. Apesar disso, não faltam papel higiênico, papel toalha e sabonete. O serviço de limpeza foi visto em quase todos os andares.

A precariedade é mesmo estrutural. Os corredores são um cenário sombrio de um imóvel criado para representar imponência. Há um buraco no teto a cada metro de caminhada. São centenas de placas de forro arrancadas, com estruturas enferrujadas e que ameaçam cair. A reportagem encontrou pelo menos três mangueiras de combate a incêndio acondicionadas de maneira irregular, fora dos abrigos. Já os extintores estavam dentro da validade. Lixeiras aparam as goteiras. Fendas no piso, rachaduras na parede, vidros quebrados, cerâmicas despregadas e fios expostos compõem o cenário de descaso que se repete, piso a piso. Numa das salas do TRT, no 12º andar, pilhas de documento no chão e um espaço sem utilidade, à espera de uma solução.