Dois estudantes são detidos durante desocupação da Reitoria da UFPE

Dois estudantes são detidos durante desocupação da Reitoria da UFPE

Dois manifestantes foram detidos por desobediência durante a desocupação da Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), iniciada por volta das 7h30 desta quinta-feira (8) pela Polícia Federal e Polícia Militar, por ordem da Justiça. Os estudantes afirmam que houve excesso de força e uso de gás de pimenta durante a reintegração de posse. A Polícia Militar disse que foi feito o possível para negociar.

Na sede da Polícia Federal, a advogada do movimento, Maria José do Amaral, disse que os estudantes detidos vão responder a um processo criminal por desobediência. Eles estão indo ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exame de corpo delito e depois serão liberados.
Ainda na UFPE ela tinha reclamado por ter sido impedida por um soldado de conversar com os clientes dela que haviam sido detidos. “Isso é letra de lei, garantia do estatuto da OAB e meu direito acaba de ser violado”, afirmou, irritada.

“Eles entraram por trás [do prédio] jogando gás de pimenta. Tem gente lá dentro ainda e tentaram agarrar um companheiro nosso que estava saindo. A gente se jogou por cima dele, tiraram minha roupa, bateram com cassetete porque a gente estava tentando impedir que ficasse alguém pra trás. Foi excesso de força”, disse uma estudante que se identificou apenas como Andrea.

Os estudantes estavam acampados no local desde o dia 2 de outubro para pedir aprovação do novo estatuto pelo Conselho Universitário. “Levamos várias pautas, entre elas a questão da segurança do campus, a homologação do estatuto, que está em vigência desde a ditadura”, apontou, no dia da ocupação, a porta-voz dos estudantes, que não quis se identificar.

“Os peritos criminais federais vão averiguar se houve dano ao patrimônio”, disse Giovani Santoro, assessor de comunicação da Polícia Federal.

“Tudo o que a gente podia fazer para negociar, a gente fez. Agora, infelizmente chegou a um ponto em que os estudantes disseram que não tinha mais o que conversar”, explicou o capitão Augusto Vilaça, que coordenou o núcleo de negociação da PM durante a ação. De acordo com Santoro, participaram da reintegração 120 policiais, entre PM e PF.

Santoro havia informado, no começo da manhã, que todas as formas de negociação seriam esgotadas mas, caso não houvesse acordo, haveria “uso progressivo da força”. “Se o pleito deles é legal ou não, eles têm que discutir em outro palco”, afirmou Santoro.

Para a desocupação, todos os acessos à Reitoria foram fechados antes das 6h por equipes da Polícia Federal e Polícia Militar. O trânsito ficou complicado na área.

Entenda a situação
A retirada dos estudantes ocorre em cumprimento à determinação da Justiça. A pedido da UFPE, a Procuradoria Regional Federal da 5ª Região tinha entrado com uma ação na Justiça pedindo a reintegração de posse do prédio da Reitoria. A universidade afirmou ainda que só vai se manifestar quando o grupo deixar o local.

No sábado (3) durante a ocupação iniciada na véspera. Uma porta de vidro na entrada foi quebrada. Os estudantes afirmam que os seguranças particulares da UFPE quebraram o vidro. Inicialmente, a Superintendência de Segurança da universidade afirmou que a culpa era dos estudantes, mas depois alegou que “foi um acidente”. O superintendente da segurança Armando Nascimento afirmou que pelo menos um segurança foi agredido por manifestantes, que negam.

O estatuto foi apresentado em reunião com o reitor Anísio Brasileiro na sexta (3) e estabelece regras administrativas da instituição — foi elaborado por servidores, professores e estudantes. A UFPE informou que representantes de professores e técnicos estavam participando da reunião e que os estudantes não aceitaram participar apenas com uma comissão.

A porta-voz do grupo estudantil, que preferiu não se identificar, explicou que o acordo firmado com a reitoria previa a participação em massa dos estudantes. “Decidimos ocupar a reitoria porque isso é um descaso, tinha sido combinada uma coisa e aconteceu outra. Em nenhum momento, a questão da ocupação foi premeditada. Foi uma reação espontânea devido à falta de diálogo. O que estão fazendo com a gente é repressão em cima de repressão”, afirmou.

A UFPE informou que o reitor conversou com os estudantes após a reunião, mas que não houve acordo para a saída do prédio. Segundo os alunos, apesar do reitor ter prometido conversar, não houve diálogo como esperado.