Comissão do impeachment vota relatório nesta segunda

Comissão do impeachment vota relatório nesta segunda

Antes de chegar ao tão falado salão verde da Câmara, um grupo seleto de 65 deputados federais votam, nesta segunda-feira, o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que já se posicionou a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Para a chegar ao palco, ou melhor, ao plenário da Casa, essa fase é como se fosse um corredor por onde passam os principais atores e todas as angústias do país. Os 65 farão uma espécie de mini julgamento que tem o poder de influenciar os demais parlamentares (513 ao todo) e a população, que acompanha o desfecho desse capítulo da República com interesse singular. O Brasil está paralisado e dividido desde as eleições de 2014.

Os governistas consideram impossível reverter a desvantagem na comissão do impeachment onde os aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são majoritários. Depois de um extenso debate que se iniciou na última sexta-feira, com parlamentares de ambos os lados expondo suas posições acaloradas, a oposição, de acordo com Raul Jungamnn (PPS), contabiliza a maioria dos votos, entre 39 e 41.

A sessão que se inicia nesta segunda-feira, contudo, ainda pode ter a duração de até 23 horas, segundo expectativa do presidente, Rogério Rosso (PSD-DF). São horas de agonia para a primeira mulher eleita presidente do Brasil, porque o cenário político não lhe é favorável.

Na última quinta-feira (7), o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, apresentou um depoimento no qual ele diz que dos R$ 34,8 milhões repassados à campanha de Dilma em 2014, R$ 10 milhões teriam origem de superfaturamento de obras do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), Angra 3 e Hidrelétrica de Belo Monte. A informação não fará parte do relatório, mas, a essa altura do campeonato, a oposição comemora cada peça que possa estar fora do lugar e que jogue fumaça no discurso de Dilma e de seus aliados.

A votação na comissão nesta segunda é a colheita de um governo que não conseguiu ter sucesso na articulação política e foi atropelado por deputados que também viraram alvo de denúncias. Esse momento é praticamente uma derrota anunciada da presidente, uma vez que, na campanha, ela dizia ter o controle do Congresso para manter a governabilidade. Esse, aliás, foi um discurso bastante usado pela petista contra a então candidata Marina Silva: o de ela que teria uma base forte, enquanto a adversária teria dificuldade em governar.

Um dos principais pontos analisados pela comissão do impeachment se refere ao que se chamou de “pedaladas fiscais”. O relator não se convenceu dos argumentos levantados pela defesa, protagonizada pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, e pelo professor de direito Ricardo Losi Ribeiro, da Universidade do Rio de Janeiro.

Prevaleceram, na visão do relator, os documentos apresentados pelos autores do pedido de impeachment, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior. Os dois sustentaram que o governo atrasou pagamentos do Tesouro Nacional a bancos públicos, como BNDES e Caixa Econômica Federal, para mascarar a situação fiscal do país. Situação a qual Dilma alegava ser favorável durante as eleições.

O parecer
Depois de votado o parecer, a decisão da comissão será lida em sessão plenária no dia seguinte, 12, e publicada no Diario Oficial da União no dia 13. Para aprovar o relatório, a oposição precisa de apenas 33 votos dos 65, o que é algo fácil de conquistar porque já há 34 líquidos e certos, sendo seis votos do PSDB, três do DEM, dois do PPS, três do PSB, dois do Prós, dois do PSD e mais dois do PSC, além de quatro do PMDB, três do PP, três do PTB, um do PPS, um do PHS e mais outro do PV.

Por outro lado, Dilma será julgada por uma comissão que tem 37 deputados com pendências na Justiça, a exemplo de Paulo Maluf (PP-SP), Paulinho da Força (SD-SP), Júlio Lopes (PP-RJ), além do próprio Jovair Arantes, relator que é homem de confiança de Eduardo Cunha, com o qual teria acordado para disputar a Presidência da Câmara no próximo ano.

Dois dias depois de publicado a decisão tomada pela comissão, Cunha leva a plenário para votação, na sexta-feira (15), onde precisa ser aprovada por 342 deputados para seguir ao Senado. O peemedebista prevê que a votação vai se estender por três dias, prazo suficiente para que os parlamentares se convençam ou não dos argumentos apresentados por ambos os lados. No próximo domingo, portanto, o Brasil deve conhecer o resultado dessa disputa que paralisou o país.

Segundo o vice-líder do governo, Silvio Costa (PTdoB), o governo está consciente de que vai perder na comissão, mas espera uma reviravolta que possa consolidar, no plenário, o resultado homologado pelas eleições em 2014, a vitória de Dilma. Na comissão dos 65, há quatro deputados pernambucanos, Mendonça Filho (DEM), Fernando Coelho Filho (PSB),  Tadeu Alencar (PSB) e o próprio Silvio Costa. No plenário, eles se somarão aos outros 21 pernambucanos para fazer parte da história, com um sim ou não à permanência de Dilma.