Manuel Bandeira defendia que o modernismo não precisava se desfazer do passado para se firmar; que o Brasil não começava ali, naquela semana de 1920, mas tinha uma história que precisava ser relevada. O que diria o poeta, então, a cada demolição de prédio históricos do Recife? O que diria, pior, da relação do seu Recife com as suas poesias?
A Cidade que ele cantava já com saudades infantis, hoje, tem uma relação fria com quem tanto a amou: Bandeira faz 130 anos como uma vaga lembrança coletiva que não recebe mais que uma estátua (colocada na rua da Aurora em 2008) e alguns versos recitados. No Espaço Pasárgada, a Semana Manuel Bandeira oferece três dias de programação. Ele merecia mais, inclusive porque das suas palavras é possível tanto conhecer a essência do Recife quanto revistar aquele que já não existe; nelas é possível iniciar na poesia de forma simples, mas profunda. Por tanto, Bandeira merece muita memória.
Como ocorre há oito anos, o Espaço Pasárgada, que funciona no imóvel tombado que pertenceu ao avô materno do poeta pernambucano, abriga a semana especial com tema “Bandeira e a cidade”, com visitas de escola, mesa redonda, sarau e o lançamento de um selo dos Correios para marcar a efeméride. A gestora do equipamento, Marília Mendes, explicou que a programação foi “condensada” por causa do feriado. A classe artística crítica a “pífia” homenagem e diz que a programação esteve ameaçada por falta de verba. Marília nega.
Mestre em Linguística, ensaísta, escritor e especialista na obra de Manuel Bandeira, André Cervinskis está na programação da Semana e também critica a subvalorização que o poeta tem no Recife. “Não só ele como outros nomes da literatura que viveram aqui em Pernambuco, como Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Joaquim Nabuco”, diz, citando a Casa Cultural Mário Quintana, que recebe, em Porto Alegre, um grande equipamento cultural, enquanto as casas de Clarice e Nabuco, aqui, têm somente placas indicativas na fachada.
Nada mais. No Pasárgada, as críticas incluem as limitações da biblioteca, especializada, mas sem ordenamento e sem o serviço de um bibliotecário, além da falta de acessibilidade e segurança. A Casa de Bandeira, nas Graças, foi posta à venda.
Segundo Marília Mendes, a programação da Semana lançará a Associação dos Amigos do Pasárgada, que fomentará um espaço de estudo e pesquisa de poesia.
Ele, Bandeira
Além de poeta urbano, erótico, ele também foi crítico (de música, cinema, de desfile de misses), cronista, solitário, solteiro, conservador, mulherengo, tradutor. “Bandeira nasceu do Recife e foi para o Rio. Quando voltou, foi para a rua da União, o mundo literário dele”, diz André Cervinskis, sobre a casa onde funciona o Pasárgada hoje. Teve tuberculose e a doença, tida na época como incurável, o pôs na solitária. “Bandeira trabalhou como crítico, escrevendo para jornais, recebendo um ‘dinheirinho’ para sobreviver”. Bandeira é um autor que merece ser festejado sempre, por sua importância. No entanto, faltam até novos estudos sobre ele”, diz.
SEMANA MANUEL BANDEIRA 2016
Segunda, 18
Apresentação da vida e da obra de Bandeira/ visita guiada pelo Espaço Pasárgada
9h às 12h – Escola Construindo
14h às 17h – Rede Estadual de Ensino
Lançamento do Selo Comemorativo pelos 130 anos de Manuel Bandeira e 30 anos do Espaço Pasárgada
19h – Participação do Secretário de Cultura, Marcelino Granja, e da Presidente da Fundarpe, Márcia Souto
19h30 – Mesa de Abertura | “As Crônicas de Manuel Bandeira: Bandeira e a cidade”
Conferencistas: André Cervinskis e Ângelo Monteiro
Terça, 19
Ação Pedagógica | Apresentação da vida e da obra do poeta Manuel Bandeira e visita guiada pelo Espaço Pasárgada
10h20 às 12h – estudantes do Ginásio Pernambucano
Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores
14h – Apresentação dos estudantes da Escola Isaac Pereira sobre Manuel Bandeira
Apresentação dos alunos da Escola Apoio
15h – Declamação dos poemas de Manuel Bandeira
19h – Exibição do material produzido na Oficina “Da Poesia ao Vídeo” de Eva Jofilsan
Cine Pasárgada Especial e bate papo com o Diretor
20h – Exibição do filme “Boi Neon” de Gabriel Mascaro
Quarta, 20
Oficina de Educação Patrimonial
9h30 às 12h – “A cidade e o Patrimônio Cultural nas poesias de Manuel Bandeira”
Facilitadores: Amanda Paraíso e Marcelo Renan (Gerência de Preservação Cultural da Fundarpe)
Público: estudantes do Ginásio Pernambucano
Apresentações
14h às 17h – Projeto de Restauro do Espaço Pasárgada (década de 1980)
Palestrante: Neide Fernandes, arquiteta da Gerência de Preservação Cultural da Fundarpe
Projeto de Acessibilidade para o Espaço Pasárgada
Desenvolvido por estudantes de Arquitetura da UFPE
Palestrante: Professora Terezinha Silva (UFPE)
Noite de encerramento
19h às 21h
Teatro | Leitura dramatizada de ‘Macbeth’, de William Shakespeare, com o Grupo Magiluth – Obra traduzida por Manuel Bandeira
Recital | As Mulheres de Bandeira, com as poetisas Cida Pedrosa e Silvana Menezes
Lançamento da Associação ‘Amigos do Pasárgada’
AÇÕES CONTINUADAS
– Escambo de livros em bom estado, exceto didáticos e religiosos
– Exibição da série ‘pasárgada.doc’
– Depoimentos de poetas pernambucanos sobre influência de Bandeira criações.
– Exibição de curtas-metragens