O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi acusado nesta quarta-feira (21) de deturpar a história, depois de ter declarado que o mufti (alto dirigente muçulmano na Palestina) de Jerusalém deu a Hitler a ideia de exterminar os judeus da Europa, em 1941.
Em um discurso pronunciado na terça-feira no Congresso sionista em Jerusalém, Netanyahu se referiu ao encontro de novembro de 1941, na Alemanha, entre Adolf Hitler e o então grande mufti de Jerusalém Haj Amin al-Husseini.
“Naquele momento, Hitler não queria exterminar os judeus, queria expulsar os judeus. Então Haj Amin al-Husseini foi encontrar Hitler e disse: ‘Se expulsá-los, todos virão para cá'”, declarou Netanyahu.
“‘Então, o que devo fazer com eles?’, perguntou (Hitler). Ele respondeu: ‘Queime'”, completou o primeiro-ministro.
Husseini, refugiado na Alemanha em 1941, pediu a Hitler seu apoio para a independência da Palestina e dos países árabes e para impedir a criação de um lar para os judeus. O Estado deIsrael foi proclamado em 1948.
Netanyahu mencionou Husseini para rebater as acusações de que Israel tenta destruir ou assumir o controle da Esplanada das Mesquitas de Jerusalém. A questão tem um papel crucial na atual onda de violência entre israelenses e palestinos.
Críticas
As palavras de Netanyahu provocaram muitas críticas.
“O filho de um historiador deve ser preciso quando se trata de história”, escreveu no Facebook o líder da oposição trabalhista Isaac Herzog, em referência ao pai do primeiro-ministro, Benzion Netanyahu, especialista na história judaica, que morreu em 2012.
Herzog classificou as palavras de Netanyahu de “perigosa deformação histórica (…) que minimiza a Shoah, os nazistas e a participação de Adolf Hitler na terrível tragédia que nosso povo sofreu durante a Shoah”.
O negociador palestino Saeb Erakat lamentou que o “chefe de Governo israelense odeie tanto seu vizinho (palestino) a ponto de estar disposto a absolver o mais notório criminoso de guerra da história, Adolf Hitler, do assassinato de seis milhões de judeus durante o Holocausto”.
Dina Porat, principal historiadora do Yad Vashem, a instituição que administra a memória da Shoah em Jerusalém, chamou de inexatas as declarações de Netanyahu.
“Embora tivesse posições antijudaicas muito extremas, não foi o mufti que deu a Hitler a ideia de exterminar os judeus”, afirmou à AFP. “A ideia precede em muito o encontro de novembro de 1941. Em um discurso no Reichstag em 30 de janeiro de 1939, Hitler mencionou ‘um extermínio da raça judaica'”, explicou.